26.1.10

O dia seguinte

Acordar estava longe de ser um alívio. O único alívio que senti foi perceber que hoje é domingo, então eu não teria de fazer nada. Poderia me internar em meu quarto e dormir o dia inteiro me afogando em torpor.
Me enrolei feito uma criança no cobertor tentando voltar a dormir, por mais que me revirasse de um lado para outro o sono não voltava. Peguei meu celular para ver que horas eram... 6:15 da manhã.
- Que droga! Seis da manhã e eu sem sono - Falei com as paredes - Pelo menos elas não me trairiam - Soltei um riso nada alegre, um riso triste e despresível - Sabe, eu poderia dormir e não acordar nunca mais. Assim eu não precisava encarar o fato de estar viva e ter de enfrentar a realidade.
Eu continuava a falar com o nada. Meu corpo estava mole, minha respiração pesada. Meu rosto queimava, parecia que eu estava com febre(apesar de saber que se estivesse com febre eu sentiria frio e não calor).
O tempo poderia ter parado naquele momento, eu deitada na cama, os cobertores jogados no chão. E eu apenas fitava o teto reparando cada pequena mancha que poderia existir ali. Observava como um gato brincalhão as moscas que voavam pelo quarto. Sem sentimento algum, nenhum pensamento louvável. Nada que se prezasse. E era isso que era ali... Nada. Eu olhava o relógio a cada segundo, mas os ponteiros pareciam não se mexer.
Me senti um lixo inútil, um entulho no meio da calçada que só atrapalha todo mundo.
Prensei meu rosto contra o travesseiro tentando não respirar mais. Que idéia ridícula, é lógico que quando o ar me faltou eu virei o rosto e o aspirei com toda a força. Eu não queria me matar... Não, isso magoaria minha mãe. Eu jamais me perdoaria sabendo o que ela sofreria. E se eu fosse para o inferno? Seria pior do que continuar aqui? Por que eu existo? O que faço? Por que faço?
Eu me fazia perguntas impossíveis de responder feito uma criança querendo descobrir o mundo. Toc, Toc. Alguém batia em minha porta.
- Entra. Disse eu sem vontade alguma.
- Olá querida? Como está?
Era meu pai, com um sorriso besta estampado na cara.
- Estou bem - Menti.
- Como foi a festa ontem?
Eu não contaria a verdade. Não contaria nada sobre Laura, Paula ou qualquer outra coisa que tenha acontecido.
- Foi bem legal.
- Hmm... É que eu pensei que... Bem se você diz que foi legal, não vou duvidar... É só que... Você chegou cedo ontem. Quando chegamos você já estava dormindo.
- Eu estava cansada. Antes da festa eu e mamãe fomos fazer compras.
- Vocês nunca variam? - Disse ele rindo eu sorri tentando não transparecer o que sentia - Vai sair hoje?
- Não, e...Eu não estou me sentindo muito bem.
- Isso que dá beber demais. - Ele satirizava.
- Deve ter sido aqueles cinco Martines consecutivos - Tentei fazer piada para disfarçar.Ele riu.
- Avise quando estiver melhor ou se precisar de algo.
- Está bem.
Ele fechou a porta e eu desabei na cama de novo. De repente me lembrei de quanto tempo eu não falava, de fato, com meu pai. Ele foi sempre tão bem humorado, tão preocupado e nos últimos anos eu mal o vira. Nós não saíamos mais juntos, não assistíamos aqueles filmes de ação que ele adora. E a quanto tempo eu não abraçava meu pai? Eu sou mesmo uma filha horrível.
Fiquei na cama até não aguentar mais. Resolvi fazer alguma coisa ali no meu quarto mesmo. Começando... Pelo guarda-roupas. As últimas revelações me fizeram ver o quanto eu odiava muitas de minhas roupas.

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